A Cassi foi criada em 1944, ainda em plena Segunda Guerra Mundial, por funcionários do Banco do Brasil preocupados com a saúde dos trabalhadores da empresa e de seus familiares. Cresceu e se espalhou pelo país todo acompanhando a expansão do BB e se transformou no maior plano de autogestão em saúde do Brasil.
Uma das maiores conquistas da história do funcionalismo do banco, a Cassi também foi pioneira na implementação do modelo de atenção integral à saúde, que privilegia a prevenção e a qualidade de vida dos associados. Em 81 anos de existência, provou ser um modelo de gestão exemplar, cujo plano de custeio precisa às vezes ser ajustado para corrigir distorções alheias à sua governança, como a inflação médica superior ao IPCA e à política salarial do banco, que privilegia a remuneração variável em detrimento da remuneração fixa, sobre a qual é calculada a contribuição à Cassi tanto dos associados quanto da patrocinadora.
“É importante que cada um de nós saiba a história da Cassi. Em primeiro lugar porque, diferentemente de outras autogestões em saúde, a Cassi pertence aos seus associados”, afirma Fernando Amaral, diretor eleito de Risco Populacional, Saúde e Rede de Atendimento, ao comentar no vídeo abaixo o processo de negociação em curso sobre o modelo de sustentabilidade da Cassi entre representantes dos associados e do banco.
‘Comunicação entre funcionários para criar a Cassi era por cartas enviadas pelo malote’
Amaral lembra que a comunicação entre os funcionários para organizar a criação da Cassi era feita por intermédio de cartas que iam pelo malote do banco. “Eles acreditaram que aquele era o momento de a gente unir forças e de forma solidária garantir um pouco de segurança para todos nós. Eles aceitariam contribuir com 1% dos seus salários para que todo colega que precisasse cirurgia ou internação pudesse ser ressarcido. Acreditaram que a solidariedade era o fator que podia nos unificar no cuidado da saúde. Esse é um valor que me emociona, que foi o que levou todo mundo a confiar naquela proposta e a criar a Cassi”, lembra Amaral.
No início, o custeio era bancado exclusivamente pelos bancários. “Durante 26 anos, a Cassi foi integralmente dos funcionários”, informa o diretor de Risco Populacional, Saúde e Rede de Atendimento. “Somente em 1970 o banco teve interesse em patrocinar a Cassi.”
Amaral explica que, com a mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília como parte da estratégia do presidente Juscelino Kubitschek de ocupar o interior do Brasil, o BB acompanhava a abertura das novas fronteiras “financiando a primeira farmácia, a padaria, a mercearia, a escola e a agricultura”. Em 1970 o banco atingiu 33 mil funcionários e tinha plano de expandir para 100 mil.
“Foi aí que o BB, como não tinha condições de levar assistência de saúde para os funcionários do Brasil inteiro, propôs patrocinar a Cassi dizendo: ‘olha, vocês botam a contribuição de 1% e eu coloco mais 2% e assim vocês cobrem o triplo de pessoas dentro das suas necessidades’. E então o Banco do Brasil passou a ser o patrocinador da nossa Caixa de Assistência”, conta Amaral.
Em 81 anos, Cassi está fazendo sua quarta revisão no plano de custeio
Foi a partir daí que os funcionários de outras empresas públicas passaram a reivindicar também a criação de seus planos de saúde. “A diferença é que todas essas outras autogestões pertencem aos patrocinadores que dão assistência de saúde como benefício a seus empregados. Não é o caso da Cassi. A Cassi é nossa. E o banco é o patrocinador. Isso faz toda a diferença em cada processo negocial que tivemos ao longo da história”, acrescenta o diretor eleito.
Enquanto a maioria das autogestões em saúde alteram praticamente todo ano seus planos de custeio, revela Amaral, a Cassi fez apenas três correções ao longo de seus 81 anos: dos 3% de 1970 (1% dos funcionários e 2% do banco), passou para 7,5% em 1976 (3/4,5) e para 12% (5,8/6,2) em 2019, quando ficou estabelecido na negociação na época que o plano seria revisto em 2024. “Estamos debatendo agora a nossa quarta mudança de custeio. E tem gente dizendo que esse modelo não se sustenta. Quantos planos você conhece que consegue garantir 81 anos de existência?”
Em defesa do modelo, Amaral sustenta que de 2019 para cá “fizemos um acordo que previa um determinado gasto em saúde pra poder corrigir nosso plano a partir de 2024. Já estamos concluindo 2025 ainda com recursos. Nós conduzimos esse modelo de atenção integral à saúde, trabalhando para que a pessoa adoeça menos, e quando adoeça seja menos grave. E qual a consequência financeira? Nesse período gastamos R$ 3,6 bilhões a menos do que estava previsto. Isso não foi uma redução porque os preços caíram, não foi porque o pessoal adoeceu menos, foi porque teve melhor cuidado e melhor orientação da saúde”.
Por isso, conclui Fernando Amaral, “apostar na Estratégia Saúde da Família, na coordenação de cuidado da atenção primária é tão importante para todos nós e para a sustentabilidade do nosso plano”.
Confira a explicação de Amaral no vídeo abaixo.