Audiência pública realizada nesta terça-feira, 23 de setembro, na Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados, debateu o aumento vertiginoso dos casos de doenças mentais dos trabalhadores do ramo financeiro. Esse problema tem sido tão alarmante que os dirigentes eleitos estão propondo a criação de um departamento na Cassi para cuidar especificamente dos transtornos mentais.
A audiência foi proposta pelo deputado federal Vicentinho (PT-SP) e reuniu representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Ministério da Saúde, da Inspeção do Trabalho, da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) e de sindicatos de bancários.
Dados alarmantes apresentados durante a sessão revelam que o modelo de gestão dos bancos — marcado por metas abusivas, cobrança humilhante, vigilância digital e assédio moral e sexual — está diretamente associado ao sofrimento e afastamento dos empregados. Para a categoria bancária, essas práticas violam a dignidade humana e destroem projetos de vida.
O setor financeiro reúne 0,8% dos vínculos formais no país. Mesmo assim, concentra 2,81% dos afastamentos por acidente e 1,12% dos afastamentos previdenciários, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Observatório de Saúde e Segurança no Trabalho.
Modelo de gestão provoca adoecimentos
“O sofrimento dos bancários e bancárias não é acidente ou desvio de conduta. São políticas empresariais planejadas, que fazem parte do modelo de negócio dos bancos. Um modelo que transforma seres humanos em números e que está destruindo vidas”, denunciou Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT.
Salles destacou ainda que o lucro bilionário das instituições financeiras não pode continuar sendo construído à custa de depressão, ansiedade, burnout, afastamentos e até suicídios.
“Não podemos naturalizar o sofrimento dos trabalhadores como ‘custo do progresso’. Não pode haver impunidade para os bancos. Não pode haver anistia para quem lucra adoecendo trabalhadores. É hora de responsabilizar e exigir que o sistema financeiro respeite a dignidade humana, cumpra a lei e garanta condições de trabalho saudáveis”, completou.
Durante a audiência, a Fenaban continuou negando a realidade ao defender que o setor oferece boas condições salariais e benefícios, questionando a metodologia estatística que relaciona os afastamentos ao trabalho. Em contrapartida, representantes sindicais e especialistas reforçaram a necessidade de intervenção legislativa e medidas de prevenção primária para humanizar o trabalho e combater o assédio.
Eleitos querem criar departamento especial na Cassi
“O aumento dos casos de adoecimentos mentais também dentro do Brasil é muito preocupante”, afirma a conselheira deliberativa Bia Garbelini.
“Por isso nós representantes eleitos dos associados defendemos a criação dentro da Cassi de um departamento ou uma área específica para discutir e enfrentar esse grande problema, que está provocando sofrimento mental em número cada vez maior de funcionários do banco”, acrescenta.
Também nesta terça-feira, 23, houve em Brasília reunião dos dirigentes sindicais bancários com o primeiro-secretário da Câmara, deputado Carlos Veras (PT), na qual os representantes dos trabalhadores entregaram documento solicitando a intermediação para uma reunião com o copresidente do INSS e com o ministro da Previdência, buscando encaminhamentos para as demandas dos trabalhadores.
(Com informações da Contraf-CUT e da Câmara dos Deputados)